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ÍNDICE
1. O Jubileu Extraordinário da Misericórdia. 2. O Concílio Vaticano II: a inspiração. 3. Amor não abstrato, mas visceral e eterno. 4. O exemplo de Jesus. 5. Ser misericordiosos. 6. A Igreja: oásis de misericórdia 7. Oração e peregrinação. 8. As obras de misericórdia. 9. O Tempo da Quaresma. 10. O Sacramento da Reconciliação. 11. Os Missionários da Misericórdia. 12. Convite à conversão. 13. Justiça e misericórdia. 14. A indulgência. 15. O diálogo com as outras religiões. 16. Mãe de misericórdia. |
1. O Jubileu Extraordinário da Misericórdia
Desde o pecado de Adão e Eva, Deus foi se revelando como misericordioso, vagaroso na ira e cheio de bondade. E, ao mandar o seu Filho, Jesus de Nazaré, para nos salvar, mostrou, de modo definitivo, que o seu amor eterno e misericordioso será sempre maior do que qualquer pecado.
Para enxergar melhor essa misericórdia do Pai e sermos agentes dela no mundo, o Papa Francisco proclamou um Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que terá início no dia 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição, porque nesta festa lembramos que Deus quis Maria santa e imaculada no amor, para ser a Mãe do Redentor do homem.
No domingo seguinte, o Terceiro do Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Latrão, como símbolo da abertura do coração de Deus, para que qualquer pessoa experimente o consolo e o perdão que Ele oferece. Paralelamente, em todas as igrejas particulares do mundo, será também aberta uma Porta da Misericórdia, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira.
O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, no dia 20 de Novembro de 2016.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 1-3 e 5, do Papa Francisco)
2. O Concílio Vaticano II: a inspiração
O Papa escolheu a data da abertura por dois motivos. Primeiro porque nesse dia se comemora o cinquentenário da conclusão do Concílio Ecuménico Vaticano II, quando chegara a hora da Igreja anunciar o Evangelho de maneira nova e de todos os cristãos testemunharem, com mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai.
Significativas, nesse sentido, foram as palavras com as quais São João XXIII abriu o Concílio: « Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade. (…) Deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados ». E, no mesmo teor, o Beato Paulo VI falou, na conclusão do Concílio, que a Igreja deveria atuar como o bom samaritano (cfr Lc 10,30-35) servindo o homem em todas as suas circunstâncias e necessidades, dando mensagens e remédios cheios de esperança.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 4, do Papa Francisco)
3. Amor não abstrato, mas visceral e eterno
A misericórdia divina não é um sinal de fraqueza, mas qualidade da omnipotência de Deus. É perdoando e compadecendo-se que Ele dá a maior prova do Seu poder.
O Antigo Testamento descreve Deus como um Ser paciente, bom, misericordioso e tardo a castigar. Nos Salmos, por exemplo, podemos ler: « O Senhor liberta os prisioneiros, o Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores » (146/145, 7-9); « [O Senhor] cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas. (...) O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão » (147/146, 3.6). Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas um amor « visceral ».
O Salmo 136, ao repetir em cada versículo que eterna é a misericórdia de Deus, Revela-nos que o homem estará eternamente sob o olhar misericordioso do Pai. Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia na Ceia em que instituiu a Eucaristia. Porque era ciente do grande mistério de amor que se realizaria na cruz (cfr. Mt 26,30).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 6-7, do Papa Francisco)
4. O exemplo de Jesus
Jesus revelou de modo visível e palpável que «Deus é amor» (1 Jo 4,8.16) em plenitude. Tudo n’Ele fala de misericórdia. Vendo que a multidão O seguia, cansada e abatida, sentiu uma intensa compaixão por elas (cfr. Mt 9,36). Curou os doentes (cfr. Mt 14,14) e, com poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (cfr. Mt 15,37). Vendo as lágrimas, da viúva de Naim, que levava o seu único filho a sepultar, sentiu grande compaixão e ressuscitou-o (cfr. Lc 7,15). Depois de ter libertado o endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta missão: « Conta tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti » (Mc 5,19). A própria vocação de Mateus (cfr. Mt 9,9) - pecador e publicano - se insere no horizonte da misericórdia. São Beda o Venerável, ao comentar esta cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com amor misericordioso e o escolheu. O Papa Francisco escolheu essa frase para ser seu lema: miserando atque eligendo.
Jesus praticou na sua vida aquilo que, no começo da sua vida pública, anunciou que faria: «O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; para proclamar um ano de misericórdia do Senhor » (Is 61,1-2).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 8 e 16, do Papa Francisco)
5. Ser misericordiosos
Jesus contou-nos, especialmente, três parábolas dedicadas à misericórdia: a da ovelha extraviada, a da moeda perdida e a do pai com os seus dois filhos (cfr. Lc 15,1-32). Nelas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, a misericórdia da força para superar tudo, enche o coração de amor e consola com o perdão.
Quando Pedro pergunta sobre quantas vezes deveria perdoar alguém, Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 22), ou seja, sempre. E contou a parábola do servo que não teve compaixão com seu colega, apesar de ter sido tratado com extrema misericórdia pelo seu senhor (cfr. Mt 18,23-35). O ensinamento que Jesus nos dá é claro: somos chamados a viver de misericórdia uns para com os outros, porque Deus foi misericordioso para conosco. Além disso, deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz: «felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 9, do Papa Francisco)
6. A Igreja: oásis de misericórdia
A Igreja esforça-se para que a justiça esteja presente no mundo. Mas essa é apenas a primeira linha da sua atuação, porque Ela existe e vive para proclamar com entusiasmo o amor misericordioso de Deus a cada pessoa, sem excluir ninguém. Essa é a meta mais alta e significativa que almeja com urgência, sobretudo numa época como a nossa cheia de grandes esperanças e fortes contradições.
Nas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 10-12 e 25, do Papa Francisco)
7. Oração e peregrinação
Jesus propõem-nos ser “Misericordiosos como o Pai” (cf. Lc 6,36), que é o lema do Ano da Misericórdia. Para isso precisamos, primeiro, recuperar o valor do silêncio para meditar a Palavra de Deus.
É necessário, também, que cada pessoa faça, segundo as próprias forças, uma peregrinação: sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 13-14, do Papa Francisco)
8. As obras de misericórdia
Fundamentalmente, ser misericordioso exige de cada um não julgar mal, não condenar, não falar mal de ninguém, perdoar a todos e dar-se (cfr. Lc 6,37-38), especialmente àqueles que vivem em situações de precariedade e sofrimento, untando-lhes as feridas com o óleo da consolação.
De um modo concreto, redescubramos as obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 14-15, do Papa Francisco)
9. O Tempo da Quaresma
A Quaresma deste Ano Jubilar da misericórdia será o tempo forte para meditar nas páginas da Sagrada Escritura que nos mostram, extraordinariamente, o rosto misericordioso do Pai, como, por exemplo: Miq 7,18-19 e Is 58,6-11.
A iniciativa « 24 horas para o Senhor », que será celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, será também ocasião para nos aproximar do sacramento da Reconciliação a fim de reencontramos o caminho para voltarmos ao Senhor, vivermos um momento de intensa oração e redescobrirmos o sentido da nossa vida.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 17, do Papa Francisco)
10. O Sacramento da Reconciliação
Colocar no centro o sacramento da Reconciliação permite-nos tocar sensivelmente na grandeza da misericórdia e da verdadeira paz interior.
Os confessores, verdadeiros sinais da misericórdia do Pai, devem continuar a mesma missão de Jesus, que veio perdoar e salvar. Para isso, devem acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens, e não lhe faz perguntas impertinentes (cfr. Lc 15,11-24).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 17, do Papa Francisco)
11. Os missionários da misericórdia
Na Quaresma deste Ano Santo, o Papa enviará os Missionários da Misericórdia: sacerdotes que poderão perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, e pregarão com convicção a misericórdia.
Nas dioceses, se organizarão « missões populares » para que estes Missionários realizem essa tarefa.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 18, do Papa Francisco)
12. Convite à conversão
O Ano da Misericórdia é um convite especial à conversão àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida: criminosas que praticam a violência para enriquecer; fautoras ou cúmplices de corrupção – oculta nos gestos diários, mas que se estende depois aos escândalos públicos, que destroem os projetos dos fracos e esmagam os mais pobres. Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 19, do Papa Francisco)
13. Justiça e misericórdia
Justiça e misericórdia são duas dimensões duma única realidade que tendem à plenitude do amor.
Em estrito senso, há justiça quando se cumpre a lei e quando cada um recebe o que é devido. Mas, justiça não se confunde com o legalismo, que divide as pessoas em justas e pecadoras. Por isso, Jesus disse que preferia a misericórdia ao sacrifício, porque não veio chamar os justos, mas os pecadores (cfr. Mt 9,13). Por causa disso é que foi rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei que, para ser fiéis à lei, limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando, porém, a misericórdia do Pai.
O apóstolo Paulo – paradigma de discípulo de Jesus - antes de encontrar Cristo no caminho de Damasco, dedicava-se a servir de maneira irrepreensível a justiça da lei (cfr. Fl 3,6). Mas, a partir e então compreende que não é a observância da lei que salva, mas a fé em Jesus Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, traz a salvação com a misericórdia que justifica (cfr. Gal 2,16).
Santo Agostinho, comentando a passagem de Os 11,5-9, onde Deus, de um modo bem humano, se encontra no dilema entre fazer justiça, rejeitando o povo infiel, e ser misericordioso com ele, diz: « É mais fácil que Deus contenha a ira do que a misericórdia ». A ira de Deus dura um instante, ao passo que a sua misericórdia é eterna.
Deus, com a misericórdia e o perdão, passa além da justiça, sem rejeitá-la. A justiça é o passo primário da conversão, que termina no perdão. Portanto a Cruz de Cristo é o juízo de Deus sobre todos nós e sobre o mundo, porque nos oferece a certeza do amor e da vida nova.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 20-21, do Papa Francisco)
14. A indulgência
No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos resíduos de pecado. Porém, a misericórdia de Deus é mais forte também do que isso. Através da Igreja, Ele liberta-nos dessas penas e dá-nos força para não recairmos no pecado.
Essa indulgência a Igreja oferece pela comunhão dos Santos: a oração e a vida santa dos Santos e Beatos cujo número é incalculável (Ap 7,9), vêm em ajuda da nossa fragilidade para libertar-nos de todos os resquícios que o pecado deixou em nossas almas.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n.22, do Papa Francisco)
15. O diálogo com as outras religiões
Possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com as outras religiões; que ele nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; que ele elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n.23, do Papa Francisco)
16. Mãe de misericórdia
Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do amor misericordioso do Deus feito homem. Essa sabedoria Ela obteve, especialmente, ao pé da cruz, quando foi testemunha do perdão supremo oferecido por Jesus a quem O crucificou. Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém.
Por isso, pedimos-lhe, pela oração da Salve Rainha, que nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus. Que a doçura do olhar da Mãe da Misericórdia nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n.24, do Papa Francisco)
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Abril – véspera do II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia – do Ano do Senhor de 2015, o terceiro de pontificado.
FIM
Desde o pecado de Adão e Eva, Deus foi se revelando como misericordioso, vagaroso na ira e cheio de bondade. E, ao mandar o seu Filho, Jesus de Nazaré, para nos salvar, mostrou, de modo definitivo, que o seu amor eterno e misericordioso será sempre maior do que qualquer pecado.
Para enxergar melhor essa misericórdia do Pai e sermos agentes dela no mundo, o Papa Francisco proclamou um Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que terá início no dia 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição, porque nesta festa lembramos que Deus quis Maria santa e imaculada no amor, para ser a Mãe do Redentor do homem.
No domingo seguinte, o Terceiro do Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Latrão, como símbolo da abertura do coração de Deus, para que qualquer pessoa experimente o consolo e o perdão que Ele oferece. Paralelamente, em todas as igrejas particulares do mundo, será também aberta uma Porta da Misericórdia, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira.
O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, no dia 20 de Novembro de 2016.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 1-3 e 5, do Papa Francisco)
2. O Concílio Vaticano II: a inspiração
O Papa escolheu a data da abertura por dois motivos. Primeiro porque nesse dia se comemora o cinquentenário da conclusão do Concílio Ecuménico Vaticano II, quando chegara a hora da Igreja anunciar o Evangelho de maneira nova e de todos os cristãos testemunharem, com mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai.
Significativas, nesse sentido, foram as palavras com as quais São João XXIII abriu o Concílio: « Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade. (…) Deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados ». E, no mesmo teor, o Beato Paulo VI falou, na conclusão do Concílio, que a Igreja deveria atuar como o bom samaritano (cfr Lc 10,30-35) servindo o homem em todas as suas circunstâncias e necessidades, dando mensagens e remédios cheios de esperança.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 4, do Papa Francisco)
3. Amor não abstrato, mas visceral e eterno
A misericórdia divina não é um sinal de fraqueza, mas qualidade da omnipotência de Deus. É perdoando e compadecendo-se que Ele dá a maior prova do Seu poder.
O Antigo Testamento descreve Deus como um Ser paciente, bom, misericordioso e tardo a castigar. Nos Salmos, por exemplo, podemos ler: « O Senhor liberta os prisioneiros, o Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores » (146/145, 7-9); « [O Senhor] cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas. (...) O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão » (147/146, 3.6). Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas um amor « visceral ».
O Salmo 136, ao repetir em cada versículo que eterna é a misericórdia de Deus, Revela-nos que o homem estará eternamente sob o olhar misericordioso do Pai. Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia na Ceia em que instituiu a Eucaristia. Porque era ciente do grande mistério de amor que se realizaria na cruz (cfr. Mt 26,30).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 6-7, do Papa Francisco)
4. O exemplo de Jesus
Jesus revelou de modo visível e palpável que «Deus é amor» (1 Jo 4,8.16) em plenitude. Tudo n’Ele fala de misericórdia. Vendo que a multidão O seguia, cansada e abatida, sentiu uma intensa compaixão por elas (cfr. Mt 9,36). Curou os doentes (cfr. Mt 14,14) e, com poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (cfr. Mt 15,37). Vendo as lágrimas, da viúva de Naim, que levava o seu único filho a sepultar, sentiu grande compaixão e ressuscitou-o (cfr. Lc 7,15). Depois de ter libertado o endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta missão: « Conta tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti » (Mc 5,19). A própria vocação de Mateus (cfr. Mt 9,9) - pecador e publicano - se insere no horizonte da misericórdia. São Beda o Venerável, ao comentar esta cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com amor misericordioso e o escolheu. O Papa Francisco escolheu essa frase para ser seu lema: miserando atque eligendo.
Jesus praticou na sua vida aquilo que, no começo da sua vida pública, anunciou que faria: «O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; para proclamar um ano de misericórdia do Senhor » (Is 61,1-2).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 8 e 16, do Papa Francisco)
5. Ser misericordiosos
Jesus contou-nos, especialmente, três parábolas dedicadas à misericórdia: a da ovelha extraviada, a da moeda perdida e a do pai com os seus dois filhos (cfr. Lc 15,1-32). Nelas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, a misericórdia da força para superar tudo, enche o coração de amor e consola com o perdão.
Quando Pedro pergunta sobre quantas vezes deveria perdoar alguém, Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 22), ou seja, sempre. E contou a parábola do servo que não teve compaixão com seu colega, apesar de ter sido tratado com extrema misericórdia pelo seu senhor (cfr. Mt 18,23-35). O ensinamento que Jesus nos dá é claro: somos chamados a viver de misericórdia uns para com os outros, porque Deus foi misericordioso para conosco. Além disso, deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz: «felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 9, do Papa Francisco)
6. A Igreja: oásis de misericórdia
A Igreja esforça-se para que a justiça esteja presente no mundo. Mas essa é apenas a primeira linha da sua atuação, porque Ela existe e vive para proclamar com entusiasmo o amor misericordioso de Deus a cada pessoa, sem excluir ninguém. Essa é a meta mais alta e significativa que almeja com urgência, sobretudo numa época como a nossa cheia de grandes esperanças e fortes contradições.
Nas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 10-12 e 25, do Papa Francisco)
7. Oração e peregrinação
Jesus propõem-nos ser “Misericordiosos como o Pai” (cf. Lc 6,36), que é o lema do Ano da Misericórdia. Para isso precisamos, primeiro, recuperar o valor do silêncio para meditar a Palavra de Deus.
É necessário, também, que cada pessoa faça, segundo as próprias forças, uma peregrinação: sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 13-14, do Papa Francisco)
8. As obras de misericórdia
Fundamentalmente, ser misericordioso exige de cada um não julgar mal, não condenar, não falar mal de ninguém, perdoar a todos e dar-se (cfr. Lc 6,37-38), especialmente àqueles que vivem em situações de precariedade e sofrimento, untando-lhes as feridas com o óleo da consolação.
De um modo concreto, redescubramos as obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 14-15, do Papa Francisco)
9. O Tempo da Quaresma
A Quaresma deste Ano Jubilar da misericórdia será o tempo forte para meditar nas páginas da Sagrada Escritura que nos mostram, extraordinariamente, o rosto misericordioso do Pai, como, por exemplo: Miq 7,18-19 e Is 58,6-11.
A iniciativa « 24 horas para o Senhor », que será celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, será também ocasião para nos aproximar do sacramento da Reconciliação a fim de reencontramos o caminho para voltarmos ao Senhor, vivermos um momento de intensa oração e redescobrirmos o sentido da nossa vida.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 17, do Papa Francisco)
10. O Sacramento da Reconciliação
Colocar no centro o sacramento da Reconciliação permite-nos tocar sensivelmente na grandeza da misericórdia e da verdadeira paz interior.
Os confessores, verdadeiros sinais da misericórdia do Pai, devem continuar a mesma missão de Jesus, que veio perdoar e salvar. Para isso, devem acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens, e não lhe faz perguntas impertinentes (cfr. Lc 15,11-24).
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 17, do Papa Francisco)
11. Os missionários da misericórdia
Na Quaresma deste Ano Santo, o Papa enviará os Missionários da Misericórdia: sacerdotes que poderão perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, e pregarão com convicção a misericórdia.
Nas dioceses, se organizarão « missões populares » para que estes Missionários realizem essa tarefa.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 18, do Papa Francisco)
12. Convite à conversão
O Ano da Misericórdia é um convite especial à conversão àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida: criminosas que praticam a violência para enriquecer; fautoras ou cúmplices de corrupção – oculta nos gestos diários, mas que se estende depois aos escândalos públicos, que destroem os projetos dos fracos e esmagam os mais pobres. Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 19, do Papa Francisco)
13. Justiça e misericórdia
Justiça e misericórdia são duas dimensões duma única realidade que tendem à plenitude do amor.
Em estrito senso, há justiça quando se cumpre a lei e quando cada um recebe o que é devido. Mas, justiça não se confunde com o legalismo, que divide as pessoas em justas e pecadoras. Por isso, Jesus disse que preferia a misericórdia ao sacrifício, porque não veio chamar os justos, mas os pecadores (cfr. Mt 9,13). Por causa disso é que foi rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei que, para ser fiéis à lei, limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando, porém, a misericórdia do Pai.
O apóstolo Paulo – paradigma de discípulo de Jesus - antes de encontrar Cristo no caminho de Damasco, dedicava-se a servir de maneira irrepreensível a justiça da lei (cfr. Fl 3,6). Mas, a partir e então compreende que não é a observância da lei que salva, mas a fé em Jesus Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, traz a salvação com a misericórdia que justifica (cfr. Gal 2,16).
Santo Agostinho, comentando a passagem de Os 11,5-9, onde Deus, de um modo bem humano, se encontra no dilema entre fazer justiça, rejeitando o povo infiel, e ser misericordioso com ele, diz: « É mais fácil que Deus contenha a ira do que a misericórdia ». A ira de Deus dura um instante, ao passo que a sua misericórdia é eterna.
Deus, com a misericórdia e o perdão, passa além da justiça, sem rejeitá-la. A justiça é o passo primário da conversão, que termina no perdão. Portanto a Cruz de Cristo é o juízo de Deus sobre todos nós e sobre o mundo, porque nos oferece a certeza do amor e da vida nova.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n. 20-21, do Papa Francisco)
14. A indulgência
No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos resíduos de pecado. Porém, a misericórdia de Deus é mais forte também do que isso. Através da Igreja, Ele liberta-nos dessas penas e dá-nos força para não recairmos no pecado.
Essa indulgência a Igreja oferece pela comunhão dos Santos: a oração e a vida santa dos Santos e Beatos cujo número é incalculável (Ap 7,9), vêm em ajuda da nossa fragilidade para libertar-nos de todos os resquícios que o pecado deixou em nossas almas.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n.22, do Papa Francisco)
15. O diálogo com as outras religiões
Possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com as outras religiões; que ele nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; que ele elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n.23, do Papa Francisco)
16. Mãe de misericórdia
Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do amor misericordioso do Deus feito homem. Essa sabedoria Ela obteve, especialmente, ao pé da cruz, quando foi testemunha do perdão supremo oferecido por Jesus a quem O crucificou. Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém.
Por isso, pedimos-lhe, pela oração da Salve Rainha, que nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus. Que a doçura do olhar da Mãe da Misericórdia nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus.
(cfr. Bula “Misericordiae vultus” n.24, do Papa Francisco)
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Abril – véspera do II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia – do Ano do Senhor de 2015, o terceiro de pontificado.
FIM