Síntese da Exortação Apostólica "Gaudete et Exsultate"
O texto completo da Exortação Apostólica já está disponível no site do Vaticano: w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20180319_gaudete-et-exsultate.html. Oferecemos a seguir um resumo que explica os principais temas tratados pelo Papa Francisco nesta exortação.
A exortação Apostólica “Gaudete et exultate”, sobre o "chamado à santidade no mundo contemporâneo" é um documento de cinco capítulos e 177 parágrafos que nos convida a ser santos hoje. O Papa explica que a santidade não é uma chamada para poucos, mas um caminho para todos. “O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer que sejamos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”.
Cap 1 - A “classe média” da santidade
No primeiro capítulo, o Papa convida: “não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados” (6). E continua: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ‘da porta do lado’, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da ‘classe média da santidade’” (7).
Cada um de nós
O Papa deseja recordar a chamada “de cada um de nós” (10) à santidade, cada um no seu caminho. E de modos muito variados. “A propósito de tais formas distintas, quero assinalar que também o ‘gênio feminino’ se manifesta em estilos femininos de santidade, indispensáveis para refletir a santidade de Deus neste mundo.
E precisamente em períodos nos quais as mulheres estiveram mais excluídas, o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja. Podemos citar Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; mas interessa-me sobretudo lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho” (12).
"Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação.
Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais" (14).
A santidade dos pequenos gestos
“Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com pequenos gestos. Por exemplo, uma senhora vai ao mercado fazer as compras, encontra uma vizinha, começam a falar e… surgem as críticas. Mas esta mulher diz para consigo: ‘Não! Não falarei mal de ninguém’. Isto é um passo rumo à santidade. Depois, em casa, o seu filho reclama a atenção dela para falar das suas fantasias e ela, embora cansada, senta-se ao seu lado e escuta com paciência e carinho. Trata-se doutra oferta que santifica. Ou então atravessa um momento de angústia, mas lembra-se do amor da Virgem Maria, pega no terço e reza com fé” (16).
Santidade e missão
“Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho” (19). “Esta missão tem o seu sentido pleno em Cristo e só se compreende a partir d’Ele. No fundo, a santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida” (20). “O desígnio do Pai é Cristo, e nós n’Ele. Em última análise, é Cristo que ama em nós, porque a santidade 'mais não é do que a caridade plenamente vivida'” (21).
Sem medo
O Papa Francisco repete várias vezes no documento que não devemos temer: “não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser. Depender d’Ele liberta-nos das escravidões e leva-nos a reconhecer a nossa dignidade” (32).
Cap. II - Dois inimigos sutis
No segundo capítulo, o Santo Padre chama a atenção “para duas falsificações da santidade que poderiam extraviar-nos: o gnosticismo e o pelagianismo”. São formas de segurança doutrinária que dão origem “a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar” (35). O Papa adverte que podemos encontrar estas atitudes dentro da própria Igreja “é típico dos gnósticos crer que eles, com as suas explicações, podem tornar perfeitamente compreensível toda a fé e todo o Evangelho” (39).
Deus é sempre uma surpresa
“Quando alguém tem resposta para todas as perguntas, demonstra que não está no bom caminho e é possível que seja um falso profeta, que usa a religião para seu benefício, ao serviço das próprias lucubrações psicológicas e mentais. Deus supera-nos infinitamente, é sempre uma surpresa e não somos nós que determinamos a circunstância histórica em que O encontramos, já que não dependem de nós o tempo, nem o lugar, nem a modalidade do encontro. Quem quer tudo claro e seguro, pretende dominar a transcendência de Deus” (42).
Não podemos confiar só em nossas forças
Os pelagianos são os que dão a impressão de que se pode tudo “com a vontade humana, como se esta fosse algo puro, perfeito, omnipotente, a que se acrescenta a graça. Pretende-se ignorar que ‘nem todos podem tudo’, e que, nesta vida, as fragilidades humanas não são curadas, completamente e duma vez por todas, pela graça” (49). “A graça, precisamente porque supõe a nossa natureza, não nos transforma de repente em super-homens” (50).
NO FUNDO, A FALTA DUM RECONHECIMENTO SINCERO, PESAROSO E ORANTE DOS NOSSOS LIMITES É QUE IMPEDE A GRAÇA DE ATUAR MELHOR EM NÓS (50).
A caridade no centro
O Papa conclui recordando que “existe uma hierarquia das virtudes” e que “no centro, está a caridade” (60). Ou, de um modo gráfico: “no meio da densa selva de preceitos e prescrições, Jesus abre uma brecha que permite vislumbrar dois rostos: o do Pai e o do irmão” (61).
Cap. III - As bem-aventuranças hoje
No terceiro capítulo, o Papa se refere às Bem-Aventuranças como “a carteira de identidade do cristão”, e oferece pautas para viver estas recomendações de Jesus nos dias de hoje. " Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida" (63).
Uma regra de comportamento
“No capítulo 25 do Evangelho de Mateus (vv. 31-46), Jesus volta a deter-se numa destas bem-aventuranças: a que declara felizes os misericordiosos”. “O texto de Mateus 25, 35-36 ‘não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo’. Neste apelo a reconhecê-Lo nos pobres e atribulados, revela-se o próprio coração de Cristo, os seus sentimentos e as suas opções mais profundas, com os quais se procura configurar todo o santo” (96).
SE VERDADEIRAMENTE PARTIMOS DA CONTEMPLAÇÃO DE CRISTO, DEVEMOS SABER VÊ-LO SOBRETUDO NO ROSTO DAQUELES COM QUEM ELE MESMO SE QUIS IDENTIFICAR (SÃO JOÃO PAULO II)
Cap. IV - Cinco manifestações de amor
No quarto capítulo, Francisco mostra algumas características “indispensáveis” da santidade no mundo atual, que constituem “cinco grandes manifestações do amor a Deus e ao próximo, que considero particularmente importantes devido a alguns riscos e limites da cultura de hoje” (111).
Paciência humilde
Começa com “suportação, paciência e mansidão”. Recomendando estas virtudes, constata como “é impressionante como, às vezes, pretendendo defender outros mandamentos, se ignora completamente o oitavo: não levantar falsos testemunhos e destrói-se sem piedade a imagem alheia”.
ESTA ATITUDE PRESSUPÕE UM CORAÇÃO PACIFICADO POR CRISTO (121)
O Papa recomenda a humildade, explicando que “uma pessoa, precisamente porque está liberta do egocentrismo, pode ter a coragem de discutir amavelmente, reclamar justiça ou defender os fracos diante dos poderosos, mesmo que isso traga consequências negativas para a sua imagem” (119).
Alegria e Bom humor
O Santo Padre esclarece: “O que ficou dito até agora não implica um espírito retraído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança” e cita São Tomás de Aquino: “do amor de caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na união com o amado. (...) Daí que a consequência da caridade seja a alegria” (Summa Theologiae, I-II, q. 70, a. 3.).
Audácia e fervor
O Papa explica a palavra grega parresia: “é ousadia, é impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo” (129). “Olhemos para Jesus! A sua entranhada compaixão não era algo que O ensimesmava, não era uma compaixão paralisadora, tímida ou envergonhada, como sucede muitas vezes conosco. Era exatamente o contrário: era uma compaixão que O impelia fortemente a sair de Si mesmo a fim de anunciar, mandar em missão, enviar a curar e libertar” (131).
“Deus é sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e aonde os seres humanos, sob a aparência da superficialidade e do conformismo, continuam à procura de resposta para a questão do sentido da vida. Deus não tem medo! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas e não Lhe metem medo as periferias. Ele próprio Se fez periferia (cf. Flp 2, 6-8; Jo 1, 14). Por isso, se ousarmos ir às periferias, lá O encontraremos: Ele já estará lá. Jesus antecipa-se a nós no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá” (135).
A importância da comunidade
O Papa recordou a importância da ajuda recíproca dos cristãos, mencionando comunidades que foram canonizadas juntas, grupos de mártires, e “de igual modo, há muitos casais santos, onde cada cônjuge foi um instrumento para a santificação do outro” (141). Depois ressaltou que esta vida comunitária “compõe-se de tantos pequenos detalhes diários. Assim acontecia na comunidade santa formada por Jesus, Maria e José” (143).
Oração e adoração
“Por fim, mesmo que pareça óbvio, lembremos que a santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se expressa na oração e na adoração” (147). E pergunta a cada um se tem “momentos em que você se coloca na Sua presença em silêncio, permanece com Ele sem pressa, e se deixa olhar por Ele?” (151).
Cap. V - A Luta contra o mal
Ao início do quinto e último capítulo, o Papa lembra que a vida cristã é “uma luta permanente” (158). “É também uma luta constante contra o demônio, que é o príncipe do mal” (159). “De fato, quando Jesus nos deixou a oração do Pai-Nosso, quis que a concluíssemos pedindo ao Pai que nos livrasse do Maligno. A expressão usada não se refere ao mal em abstrato; a sua tradução mais precisa é ‘o Maligno’. Indica um ser pessoal que nos atormenta. Jesus ensinou-nos a pedir cada dia esta libertação para que o seu poder não nos domine” (160).
O discernimento
Para “saber se algo vem do Espírito Santo ou se deriva do espírito do mundo e do espírito maligno” (166), o único caminho é discernimento. “O discernimento não é necessário apenas em momentos extraordinários, quando temos de resolver problemas graves ou quando se deve tomar uma decisão crucial; mas é um instrumento de luta, para seguir melhor o Senhor. É-nos sempre útil, para sermos capazes de reconhecer os tempos de Deus e a sua graça” (169).
Sempre
“Quando perscrutamos na presença de Deus os caminhos da vida, não há espaços que fiquem excluídos. Em todos os aspetos da existência, podemos continuar a crescer e dar algo mais a Deus, mesmo naqueles em que experimentamos as dificuldades mais fortes”. “Aquele que pede tudo, também dá tudo, e não quer entrar em nós para mutilar ou enfraquecer, mas para levar à perfeição” (175).
A figura de Maria
“Desejo coroar estas reflexões com a figura de Maria, porque Ela viveu como ninguém as bem-aventuranças de Jesus” (176). “Espero que estas páginas sejam úteis para que toda a Igreja se dedique a promover o desejo da santidade. Peçamos ao Espírito Santo que infunda em nós um desejo intenso de ser santos para a maior glória de Deus” (177).
A exortação Apostólica “Gaudete et exultate”, sobre o "chamado à santidade no mundo contemporâneo" é um documento de cinco capítulos e 177 parágrafos que nos convida a ser santos hoje. O Papa explica que a santidade não é uma chamada para poucos, mas um caminho para todos. “O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer que sejamos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”.
Cap 1 - A “classe média” da santidade
No primeiro capítulo, o Papa convida: “não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados” (6). E continua: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ‘da porta do lado’, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da ‘classe média da santidade’” (7).
Cada um de nós
O Papa deseja recordar a chamada “de cada um de nós” (10) à santidade, cada um no seu caminho. E de modos muito variados. “A propósito de tais formas distintas, quero assinalar que também o ‘gênio feminino’ se manifesta em estilos femininos de santidade, indispensáveis para refletir a santidade de Deus neste mundo.
E precisamente em períodos nos quais as mulheres estiveram mais excluídas, o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja. Podemos citar Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; mas interessa-me sobretudo lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho” (12).
"Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação.
Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais" (14).
A santidade dos pequenos gestos
“Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com pequenos gestos. Por exemplo, uma senhora vai ao mercado fazer as compras, encontra uma vizinha, começam a falar e… surgem as críticas. Mas esta mulher diz para consigo: ‘Não! Não falarei mal de ninguém’. Isto é um passo rumo à santidade. Depois, em casa, o seu filho reclama a atenção dela para falar das suas fantasias e ela, embora cansada, senta-se ao seu lado e escuta com paciência e carinho. Trata-se doutra oferta que santifica. Ou então atravessa um momento de angústia, mas lembra-se do amor da Virgem Maria, pega no terço e reza com fé” (16).
Santidade e missão
“Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho” (19). “Esta missão tem o seu sentido pleno em Cristo e só se compreende a partir d’Ele. No fundo, a santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida” (20). “O desígnio do Pai é Cristo, e nós n’Ele. Em última análise, é Cristo que ama em nós, porque a santidade 'mais não é do que a caridade plenamente vivida'” (21).
Sem medo
O Papa Francisco repete várias vezes no documento que não devemos temer: “não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser. Depender d’Ele liberta-nos das escravidões e leva-nos a reconhecer a nossa dignidade” (32).
Cap. II - Dois inimigos sutis
No segundo capítulo, o Santo Padre chama a atenção “para duas falsificações da santidade que poderiam extraviar-nos: o gnosticismo e o pelagianismo”. São formas de segurança doutrinária que dão origem “a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar” (35). O Papa adverte que podemos encontrar estas atitudes dentro da própria Igreja “é típico dos gnósticos crer que eles, com as suas explicações, podem tornar perfeitamente compreensível toda a fé e todo o Evangelho” (39).
Deus é sempre uma surpresa
“Quando alguém tem resposta para todas as perguntas, demonstra que não está no bom caminho e é possível que seja um falso profeta, que usa a religião para seu benefício, ao serviço das próprias lucubrações psicológicas e mentais. Deus supera-nos infinitamente, é sempre uma surpresa e não somos nós que determinamos a circunstância histórica em que O encontramos, já que não dependem de nós o tempo, nem o lugar, nem a modalidade do encontro. Quem quer tudo claro e seguro, pretende dominar a transcendência de Deus” (42).
Não podemos confiar só em nossas forças
Os pelagianos são os que dão a impressão de que se pode tudo “com a vontade humana, como se esta fosse algo puro, perfeito, omnipotente, a que se acrescenta a graça. Pretende-se ignorar que ‘nem todos podem tudo’, e que, nesta vida, as fragilidades humanas não são curadas, completamente e duma vez por todas, pela graça” (49). “A graça, precisamente porque supõe a nossa natureza, não nos transforma de repente em super-homens” (50).
NO FUNDO, A FALTA DUM RECONHECIMENTO SINCERO, PESAROSO E ORANTE DOS NOSSOS LIMITES É QUE IMPEDE A GRAÇA DE ATUAR MELHOR EM NÓS (50).
A caridade no centro
O Papa conclui recordando que “existe uma hierarquia das virtudes” e que “no centro, está a caridade” (60). Ou, de um modo gráfico: “no meio da densa selva de preceitos e prescrições, Jesus abre uma brecha que permite vislumbrar dois rostos: o do Pai e o do irmão” (61).
Cap. III - As bem-aventuranças hoje
No terceiro capítulo, o Papa se refere às Bem-Aventuranças como “a carteira de identidade do cristão”, e oferece pautas para viver estas recomendações de Jesus nos dias de hoje. " Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida" (63).
- «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu»
- «Felizes os mansos, porque possuirão a terra»
- «Felizes os que choram, porque serão consolados»
- «Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados»
- «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»
- «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus»
- «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus»
- «Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu»
Uma regra de comportamento
“No capítulo 25 do Evangelho de Mateus (vv. 31-46), Jesus volta a deter-se numa destas bem-aventuranças: a que declara felizes os misericordiosos”. “O texto de Mateus 25, 35-36 ‘não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo’. Neste apelo a reconhecê-Lo nos pobres e atribulados, revela-se o próprio coração de Cristo, os seus sentimentos e as suas opções mais profundas, com os quais se procura configurar todo o santo” (96).
SE VERDADEIRAMENTE PARTIMOS DA CONTEMPLAÇÃO DE CRISTO, DEVEMOS SABER VÊ-LO SOBRETUDO NO ROSTO DAQUELES COM QUEM ELE MESMO SE QUIS IDENTIFICAR (SÃO JOÃO PAULO II)
Cap. IV - Cinco manifestações de amor
No quarto capítulo, Francisco mostra algumas características “indispensáveis” da santidade no mundo atual, que constituem “cinco grandes manifestações do amor a Deus e ao próximo, que considero particularmente importantes devido a alguns riscos e limites da cultura de hoje” (111).
Paciência humilde
Começa com “suportação, paciência e mansidão”. Recomendando estas virtudes, constata como “é impressionante como, às vezes, pretendendo defender outros mandamentos, se ignora completamente o oitavo: não levantar falsos testemunhos e destrói-se sem piedade a imagem alheia”.
ESTA ATITUDE PRESSUPÕE UM CORAÇÃO PACIFICADO POR CRISTO (121)
O Papa recomenda a humildade, explicando que “uma pessoa, precisamente porque está liberta do egocentrismo, pode ter a coragem de discutir amavelmente, reclamar justiça ou defender os fracos diante dos poderosos, mesmo que isso traga consequências negativas para a sua imagem” (119).
Alegria e Bom humor
O Santo Padre esclarece: “O que ficou dito até agora não implica um espírito retraído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança” e cita São Tomás de Aquino: “do amor de caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na união com o amado. (...) Daí que a consequência da caridade seja a alegria” (Summa Theologiae, I-II, q. 70, a. 3.).
Audácia e fervor
O Papa explica a palavra grega parresia: “é ousadia, é impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo” (129). “Olhemos para Jesus! A sua entranhada compaixão não era algo que O ensimesmava, não era uma compaixão paralisadora, tímida ou envergonhada, como sucede muitas vezes conosco. Era exatamente o contrário: era uma compaixão que O impelia fortemente a sair de Si mesmo a fim de anunciar, mandar em missão, enviar a curar e libertar” (131).
“Deus é sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e aonde os seres humanos, sob a aparência da superficialidade e do conformismo, continuam à procura de resposta para a questão do sentido da vida. Deus não tem medo! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas e não Lhe metem medo as periferias. Ele próprio Se fez periferia (cf. Flp 2, 6-8; Jo 1, 14). Por isso, se ousarmos ir às periferias, lá O encontraremos: Ele já estará lá. Jesus antecipa-se a nós no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá” (135).
A importância da comunidade
O Papa recordou a importância da ajuda recíproca dos cristãos, mencionando comunidades que foram canonizadas juntas, grupos de mártires, e “de igual modo, há muitos casais santos, onde cada cônjuge foi um instrumento para a santificação do outro” (141). Depois ressaltou que esta vida comunitária “compõe-se de tantos pequenos detalhes diários. Assim acontecia na comunidade santa formada por Jesus, Maria e José” (143).
Oração e adoração
“Por fim, mesmo que pareça óbvio, lembremos que a santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se expressa na oração e na adoração” (147). E pergunta a cada um se tem “momentos em que você se coloca na Sua presença em silêncio, permanece com Ele sem pressa, e se deixa olhar por Ele?” (151).
Cap. V - A Luta contra o mal
Ao início do quinto e último capítulo, o Papa lembra que a vida cristã é “uma luta permanente” (158). “É também uma luta constante contra o demônio, que é o príncipe do mal” (159). “De fato, quando Jesus nos deixou a oração do Pai-Nosso, quis que a concluíssemos pedindo ao Pai que nos livrasse do Maligno. A expressão usada não se refere ao mal em abstrato; a sua tradução mais precisa é ‘o Maligno’. Indica um ser pessoal que nos atormenta. Jesus ensinou-nos a pedir cada dia esta libertação para que o seu poder não nos domine” (160).
O discernimento
Para “saber se algo vem do Espírito Santo ou se deriva do espírito do mundo e do espírito maligno” (166), o único caminho é discernimento. “O discernimento não é necessário apenas em momentos extraordinários, quando temos de resolver problemas graves ou quando se deve tomar uma decisão crucial; mas é um instrumento de luta, para seguir melhor o Senhor. É-nos sempre útil, para sermos capazes de reconhecer os tempos de Deus e a sua graça” (169).
Sempre
“Quando perscrutamos na presença de Deus os caminhos da vida, não há espaços que fiquem excluídos. Em todos os aspetos da existência, podemos continuar a crescer e dar algo mais a Deus, mesmo naqueles em que experimentamos as dificuldades mais fortes”. “Aquele que pede tudo, também dá tudo, e não quer entrar em nós para mutilar ou enfraquecer, mas para levar à perfeição” (175).
A figura de Maria
“Desejo coroar estas reflexões com a figura de Maria, porque Ela viveu como ninguém as bem-aventuranças de Jesus” (176). “Espero que estas páginas sejam úteis para que toda a Igreja se dedique a promover o desejo da santidade. Peçamos ao Espírito Santo que infunda em nós um desejo intenso de ser santos para a maior glória de Deus” (177).