Está claro que a Igreja não pode mudar a doutrina moral sobre a família. Se poderia argumentar contra isso que, se uma relação sexual, dita como objetivamente pecaminosa pela teologia moral, fosse praticada regularmente por um casal, mas mantendo a fidelidade mútua, perderia o seu caráter negativo. Porém, em contrapartida, se isso fosse aceito, também deveria se aceitar, com a mais absoluta coerência de pensamento, que, se dois cúmplices de assassínios regulares se mantivessem fieis aos pactos recíprocos, isso reduziria sensivelmente o caráter negativo do crime.
Parece que não é por essa via que deveria caminhar a pastoral familiar. Porque, assim como o corpo não pode ser separado da alma, do mesmo modo a pastoral não pode se apartar da doutrina moral, já que isso acarretaria uma forma de heresia, uma perigosa patologia esquizofrênica. Mas é certo também que há uma necessidade de atualizar a pastoral familiar. Porém, é necessário que isso seja feito atendendo à noção de que, na pastoral da Igreja, existem disposições disciplinares que são susceptíveis de mudanças e outras que são de origem divina – por exemplo os 10 mandamentos – que não podem ser alteradas pela Igreja. A Igreja é uma Mãe que, sem deixar de manifestar compreensão pela crise de alguns casamentos, tem a missão de salvar e santificar os seus fiéis, inclusive na sua vida familiar. E isso ela só pode realizar, mantendo-se leal à Verdade. Assim sendo, são os fiéis que devem acatar filialmente os ensinamentos pastorais da Igreja, que nada mais faz que repetir a verdade pregada por Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Precisas são estas palavras de Mons. Gerard Ludwig Müller, prefeito da Congregação da Doutrina da Fé: “Um dos problemas pastorais mais graves consiste no facto de que muitos, hoje, julgam o matrimonio exclusivamente segundo critérios mundanos e pragmáticos. Quem pensa segundo o «espírito do mundo» (1 Cor 2, 12) não pode compreender a sacramentalidade do matrimônio. À crescente falta de compreensão acerca da santidade do matrimonio, a Igreja não pode responder com uma adequação pragmática ao que parece inevitável, mas só com a confiança no «Espírito de Deus, para que possamos conhecer o que Deus nos doou» (1 Cor 2, 12)” (Acerca da indissolubilidade do matrimonio e do debate sobre os divorciados recasados e os sacramentos). Além do mais, temos a experiência negativa, de como a tolerância imprudente levou a resultados catastróficos nas igrejas protestantes, que se veem minguadas cada vez mais de fiéis permanentes. Quer dizer: as pessoas em situações irregulares têm mais dificuldade de serem praticantes. É necessário acreditar que o número de pessoas praticantes cresce quando se encoraja a observância dos preceitos morais, quando se apresenta propostas desafiantes e contrárias à cultura dominante. Por tanto, se a Igreja mudasse uma doutrina e uma prática bimilenar sobre o casamento, ela perderia a credibilidade sobre o que quisesse ensinar amanhã.
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AutorPadre Ricardo Leão. ArquivosCategorias |